quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Aquecimento global e metodo cientifico



Numa linha que remonta Aristóteles a Karl Popper, os últimos dois séculos superam dois milênios passados em termos de progresso material. A explicação da assimetria é o desenvolvimento da ciência.


Grosso modo, fazer ciência é criar modelos matemáticos que descrevam e façam previsões acerca das observações empíricas. Um meio eficiente para se obter o controle de um processo. Uma expansão descontrolada de um gás ou de um combustível é uma explosão. Uma queima controlada deste mesmo gás em uma turbina vira um foguete, é o método cientifico que permite este controle.

O cientificismo, doutrina do inicio do século XX, fez acreditar que o uso irrestrito da ciência permitiria um controle indiscriminado da natureza. Esta noção ainda impregna os julgamentos de muitos, que acreditam que o que foge ao controle não pertence ao campo da ciência. Karl Popper, influente filósofo do século XX, criou padrões que estabelecem limites para ciência com o critério da falseabilidade, segundo o qual, apenas é cientifico o que pode ser refutado. Assim, a astrologia, por exemplo, claramente não pertence ao campo da ciência, pois não pode ser refutada. É uma tautologia sem qualquer utilidade pratica. Seguindo uma linha ultra-ortodoxa, céticos e intere$$ados se apressam em excluir a climatologia (ciência que estuda o clima) do campo da ciência. Os céticos são cientistas que afirmam que previsões climáticas de longo prazo, como o aquecimento global, estão fora do nosso alcance

O clima é um sistema complexo. Fazer previsões perfeitas em um sistema complexo é uma tarefa que flerta com o impossível. Entretanto, como na mecânica quântica, se estabelecem probabilidades para determinados cenários. Por exemplo, a meteorologia não pode afirmar que vai chover semana que vem. Mas pode estimar que haja 70% de chance que isto ocorra. Isto é ciência? Claro que sim. As estimativas devem ser refinadas, mas algum nível de incerteza é inerente à natureza. Quanto maior o período da previsão, maior a incerteza.

Nossas previsões climáticas de longo prazo se baseiam em modelos computacionais. Os céticos afirmam que estes modelos subestimam as variáveis naturais como raios cósmicos e erupções vulcânicas, ainda afirmam que os níveis de CO2 são efeito e não a causa do aquecimento.

A segunda afirmação é dedicada a criar confusão apenas. Um aquecimento através da maior atividade solar pode causar maior liberação de CO2. Entretanto este CO2 excedente cria um feedback , uma realimentação positiva, que potencializa o aquecimento solar . Entretanto, um sistema sujeito às radiações térmicas médias variáveis, mas com acréscimo constante de CO2, também sofrerá aumento das temperaturas médias. Climatologistas respeitáveis, como James Hansen (diretor do IPCC instituto supranacional de estudos climáticos), porém, afirmam que as variações da atividade solar e outros fenômenos cósmicos estão previstos nos modelos computacionais. O IPCC calcula em 2 W/m2 o acréscimo de energia no planeta devido aos gases estufa antropogênicos Portanto a abordagem correta é de que o CO2 pode ser visto como uma causa para o aquecimento e também como um efeito que potencializará a causa.

A primeira afirmação, de que apenas as causas naturais são responsáveis pelo aquecimento, é mais complicada. As ações antropogênicas (causadas pelo homem) no clima tornaram-se significativas a partir da revolução industrial. Até então, apenas as causas naturais eram determinantes do clima. Então, praticamente todo estudo climatológico de séculos e milênios passados dizem respeito às causas naturais de aquecimento global. Isto coloca os defensores do aquecimento global antropogênico numa situação de desvantagem. Céticos e con$ervadores alegam que fenômenos, como o atual aquecimento global, foram vistos às centenas ao longo da história e que qualquer atuação humana seria desprezível no contexto do clima. Outro argumento falacioso. Medições criteriosas dão conta de que desde o inicio da revolução industrial, os níveis de CO2 subiram em 40% , níveis comparáveis a períodos históricos de grande aquecimento do planeta. Ignorar este fato é uma atitude tendenciosa. Fatores que influenciam no clima são conhecidos como “forçantes” e afirmar que a ação do homem no clima é insignificante, é no mínimo pouco cientifico. A colonização de outros planetas, como Marte, está fundamentada nas forçantes antropogênicas do clima, já que em Marte um aquecimento da superfície daquele planeta seria muito bem vinda. Entender a forma como o homem influência o clima é tarefa para gerações, descartar a influência humana no clima é uma atitude de quem não tem compromisso com a ciência.

Nesta guerra de informação e contra-informação do aquecimento global, os céticos, até agora, tem se prestado a um papel pouco ou quase nada aproveitável, já que apenas refutam modelos sem qualquer preocupação em apresentar modelos alternativos que atendam à finalidade nobre da ciência, ou seja, possibilitar o controle ou pelo menos a influência humana no clima.

Os climatologistas, mesmo com seus modelos computacionais imperfeitos, são as formiguinhas que colhem dados e criam modelos que no futuro poderão salvar ou pelo menos prolongar a existência da raça humana neste e em outros planetas. Estes mesmos climatologistas são os que criam modelos refutáveis, são protagonistas da nossa melhor estirpe de cientistas.

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